quinta-feira, setembro 30, 2010

Honda 600



Hoje fizeram-me lembrar de ti... eras branco, com estofos pretos, uma lindeza!
Talvez fazendo um esforço de memória me venha a lembrar da tua matrícula...
Eras o automóvel mais bonito, mais rápido, mais económico que circulava pelas ruas de Lisboa... ou não fosses o meu primeiro carro!
Contigo passei belos momentos, corri Portugal de lés-a-lés... menos Trás-os-Montes, onde finalmente fui há poucos dias...
Eras tão portátil, tão portátil que bastavam dois homens fortes para te levantar quase em peso. Como naquela cena vergonhosa que passei nos montes Cantábricos, lá para o norte de Espanha...
Passei-me dos carretos após quilómetros e quilómetros por aqueles montes, atrás dum camião TIR; pastelava nas subidas, acelerava nas descidas. Quando já ia a espumar pela boca e antes que fizesse alguma ultrapassagem disparatada, pensei para os meus botões: "vou parar e deixar que ele vá à sua vida".
Se assim o pensei, melhor o fiz. Melhor não, pior... Porque afinal aquela berma coberta com um tapete verdinho e com aspecto seguro, encobria uma papa de lama (devia ter chovido) e tu resolveste, quando travei (se calhar um bocadinho a fundo) fazer uma pirueta e ficar de rabo pendurado para um vinhedo.
Durante algum tempo nem respirei, com medo que resolvesses quebrar o frágil equilibrio e te atirasses lá para baixo levando contigo a tralhunça do campismo e o que é bem pior... a tua dona louca.
Mas como todas as diabinhas têm sorte, no momento em que estava prestes a decidir arriscar-me a abrir a porta, apareceram aqueles dois latagões, que a rir (com o papinho cheio de gozo) me disseram qualquer coisa do género "Te queda dentro, no passa nada!"
E como se estivessem a pegar numa saca voltaram a por-te com as quatro rodas em terra firme (ou quase).
E com um "muchas gracias" e uma prece ao Alto, lá voltámos à estrada.
Nunca mais voltámos a derrapar durante os 5 anos em que viajámos juntos. Troquei-te por um habitáculo maior e um pouco mais confortável... mas sem o teu encanto.

2 comentários:

ILCO disse...

eles andam aí... outra vez!
e mais modernaços

ervadecheiro disse...

não seria o mesmo... não há amor como o primeiro :)
mas hei-de espreitá-lo, sempre dá para matar saudades!