
Partir do nada e criar qualquer coisa que sabemos que vai estar ali para gerações vindouras, pode e deve deixar-nos imbuídos de um sentimento de orgulho.
Foi esse sentimento de obra feita que deixei reentrar em mim, que deixei que alagasse a minha alma expulsando dela pensamentos derrotistas, sentimentos de amargura e de perda. Nós somos natureza, em nós nada se perde, só temos que dar um tempo para que aquilo que foi mau se transforme em bom, para que a nossa memória retenha os momentos positivos, deixando que os outros, os que queremos esquecer, se esfumem no tempo.
Foi esse sentimento de obra feita que deixei reentrar em mim, que deixei que alagasse a minha alma expulsando dela pensamentos derrotistas, sentimentos de amargura e de perda. Nós somos natureza, em nós nada se perde, só temos que dar um tempo para que aquilo que foi mau se transforme em bom, para que a nossa memória retenha os momentos positivos, deixando que os outros, os que queremos esquecer, se esfumem no tempo.
Voltei a ver-te, pedaço de terra ,tal como te vi da primeira vez, chorando de abandono, pedindo que alguém cuidasse de ti, te livrasse das ervas daninhas, te desse de comer e de beber, em troca de promessas de abundância.
Fui buscar a água às entranhas da terra e assim te dei de beber. Lavrei-te e estrumei-te e assim te dei de comer. Ofereci-te as sementes e tu cumpriste as promessas de fartura e de multiplicação.
Cuidei da tua vinha secular, como se nunca tivesse feito outra coisa na vida, e ela recompensou-me com vindimas abundantes, que ajudei a transformar em vinho.
E para poder cuidar de ti, pedaço de terra fértil, ajudei a construir a casa e dela fiz um lar. E voltei a limpar-te dos entulhos que não faziam parte de ti e criei os jardins, semeei relva, plantei flores, arbustos e árvores e tudo agradeceste e fizeste crescer. E em troca duma batata me davas vinte, e dum grão de milho várias maçarocas, e davas-me searas de aveia e de centeio, e fazias da minha horta o meu orgulho.
Os choupos que te ofereci, pequeninos como crianças, transformaram-se em gigantes que tocam o céu, embalando os ouvidos de quem os escuta com o marulhar das suas folhas agitadas pela brisa e com o chilrear das aves que nelas procuram abrigo. E as rosas banhadas pelo sol quente do ribatejo perfumam o ar com o seu aroma inebriante.
Foi tudo isto e a ti que hoje deixei - por muito ou pouco tempo, não sei -, entregue a outras mãos.
Uma mescla de sentimentos contraditórios, de apego e de aversão, de encanto e de desencanto, salpicados pela solidão, fizeram com que partisse. Trouxe nas minhas mãos as marcas dos anos em que de ti cuidei.
Deixei-te com promessas de iguais desvelos, mas de certeza com menos amor. Perdoa-me por isso.
Nem sei se algum dia para ti voltarei, pedaço de terra, mas nunca vou esquecer tudo o que me deste, tudo o que me ensinaste.
Sem comentários:
Enviar um comentário