terça-feira, dezembro 14, 2010

A tristeza de Natal

É por estes dias que aparece. Não desde sempre, pelo menos que me lembre, mas de há uns anos para cá.
Vem de mansinho. Como aquele mau estar indefinido causado por uma virose. Como que uma impaciência para a qual não se tem diagnóstico. A irritação de um porquê, sem resposta. A falta de vontade de fazer o que se acha que tem que ser feito.
Será nostalgia? De quem se teve por perto, e não se tem mais. De sentimentos perdidos, amores terminados. De paixões que se extinguiram. Saudades do que tivemos sem nunca ter tido, de projectos ou sonhos que nunca vimos realizados.
Será tristeza? Sem se perceber porque se está triste?
Ou será porque não se encontra nenhum sentido na azáfama da corrida às compras, essa agitação natalícia que o consumismo inventou? Porque não faz nenhum sentido o contraste entre a abastança de uns e a miséria de tantos?
Sentido tinha o cheiro do musgo fresco, colhido nas veredas sem sol, a rodear o laguinho feito de prata onde se miravam os patos que, sabe-se lá porquê, faziam companhia ao Menino, juntamente com as ovelhas, os reis magos e os pastores.
Sentido tinha o esforço de juntar à mesma mesa, debaixo do mesmo tecto, aqueles que sempre se amaram. E eram eles que importavam.
Mas sentido faz também e agora, a tolerância, a compaixão, a aceitação da diferença e da mudança.
Sentido faz saber que é bom voltar a abraçar quem se tem vontade de abraçar, poder embalar quem nasceu e ainda não se sentiu. Sentido faz sorrir, e estar, e conversar.
E assim, tudo acaba por fazer sentido.

domingo, outubro 31, 2010

O teu lugar

"Sei de cor cada lugar teu
atado em mim, a cada lugar meu
tento entender o rumo que a vida nos faz tomar
tento esquecer a mágoa
guardar só o que é bom de guardar

Pensa em mim protege o que te dou
eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou
sem ter defesas que me façam falhar
nesse lugar mais dentro
onde só chega quem não tem medo de naufragar

Fica em mim que hoje o tempo dói
como se arrancassem tudo o que já foi
e até o que virá e até o que eu sonhei
diz-me que vais guardar e abraçar
tudo o que eu te dei

Mesmo que a vida mude os nossos sentidos
e o mundo nos leve pra longe de nós
e que um dia o tempo pareça perdido
e tudo se desfaça num gesto só

Eu vou guardar cada lugar teu
ancorado em cada lugar meu
e hoje apenas isso me faz acreditar
que eu vou chegar contigo
onde só chega quem não tem medo de naufragar."

Cada lugar teu - Mafalda Veiga

quinta-feira, setembro 30, 2010

Honda 600



Hoje fizeram-me lembrar de ti... eras branco, com estofos pretos, uma lindeza!
Talvez fazendo um esforço de memória me venha a lembrar da tua matrícula...
Eras o automóvel mais bonito, mais rápido, mais económico que circulava pelas ruas de Lisboa... ou não fosses o meu primeiro carro!
Contigo passei belos momentos, corri Portugal de lés-a-lés... menos Trás-os-Montes, onde finalmente fui há poucos dias...
Eras tão portátil, tão portátil que bastavam dois homens fortes para te levantar quase em peso. Como naquela cena vergonhosa que passei nos montes Cantábricos, lá para o norte de Espanha...
Passei-me dos carretos após quilómetros e quilómetros por aqueles montes, atrás dum camião TIR; pastelava nas subidas, acelerava nas descidas. Quando já ia a espumar pela boca e antes que fizesse alguma ultrapassagem disparatada, pensei para os meus botões: "vou parar e deixar que ele vá à sua vida".
Se assim o pensei, melhor o fiz. Melhor não, pior... Porque afinal aquela berma coberta com um tapete verdinho e com aspecto seguro, encobria uma papa de lama (devia ter chovido) e tu resolveste, quando travei (se calhar um bocadinho a fundo) fazer uma pirueta e ficar de rabo pendurado para um vinhedo.
Durante algum tempo nem respirei, com medo que resolvesses quebrar o frágil equilibrio e te atirasses lá para baixo levando contigo a tralhunça do campismo e o que é bem pior... a tua dona louca.
Mas como todas as diabinhas têm sorte, no momento em que estava prestes a decidir arriscar-me a abrir a porta, apareceram aqueles dois latagões, que a rir (com o papinho cheio de gozo) me disseram qualquer coisa do género "Te queda dentro, no passa nada!"
E como se estivessem a pegar numa saca voltaram a por-te com as quatro rodas em terra firme (ou quase).
E com um "muchas gracias" e uma prece ao Alto, lá voltámos à estrada.
Nunca mais voltámos a derrapar durante os 5 anos em que viajámos juntos. Troquei-te por um habitáculo maior e um pouco mais confortável... mas sem o teu encanto.

terça-feira, setembro 21, 2010

aTrás dOs Montes














Sendim, vila situada em terras altas, já povoada em eras pré-históricas e medievas e delas retendo vestígios...

E foi de alguns deles que demos conta, graças à disponibilidade de duas das suas habitantes, que nos deram honra de visita guiada, à Igreja Matriz de Santa Maria de Sendim (assim lhe chamavam em anos de 1300), passando a Nossa Senhora do Pranto (mais a meu gosto) por anos de 1700.

E foi assim que a sentimos, com direito a subir à torre sineira e foi assim que demos conta que tanto ela, desde que existe, como nós, naquele momento, nos encontrávamos sobre uma necrópole medieval...

Espantos...

segunda-feira, maio 10, 2010

As bolas de sabão

... folhas de papel, lápis, carvão e umas horas que se tornam mágicas...




Manet

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quarta-feira, março 24, 2010

Groovy Kind Of Love

A cor

Gosto do azul.
O azul do topázio
da água marinha
da safira e da ametista
e gosto de flores azuis
da hortênsia, da centaurea
e da pervinca
gosto do azul do mar profundo
do azul do céu lavado
gosto do olhar azul de menino
dos olhos azuis do homem desejado
se fosse pássaro
seria azul
se fosse borboleta
azul seria
e nas asas de um anjo azul gostaria
de viajar por espaços azulados.

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segunda-feira, março 15, 2010

Posso Amar

Homem!
Sabes quem sou?
Sou Mulher
Felina, guerreira
Tanto posso ser rainha
Como posso ser plebeia
Posso ser frágil
E chorar de que maneira
Ou ser forte
E prender-te em minha teia
Posso deixar-me render
Sem nada ter que temer
Tanto sou lua multifacetada
Como posso ser uma sombra recatada
E como sou Mulher
Posso dar sem receber
E lembrar sem ser lembrada
E perdoar e esquecer
Posso esperar e ainda assim reinventar
Posso tremer e não ter medo de o dizer
Posso abraçar com força
E nesse abraço tudo dar
Posso ser amiga e amante
E viajar-me num corpo
Ou perder-me num olhar
Como sou Mulher
Posso Amar.
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segunda-feira, março 08, 2010

Hino à Mulher - Vangelis

E Deus criou a Mulher




Nada mais contraditório do que ser mulher...
Mulher que pensa com o coração,
age pela emoção e vence pelo amor.
Que vive milhões de emoções num só dia
e transmite cada uma delas, num único olhar.
Que cobra de si a perfeição
e vive procurando desculpas
para os erros daqueles a quem ama.
Que hospeda no ventre outras almas,
dá a luz e depois fica cega,
diante dos filhos que gerou.
Que dá as asas, ensina a voar
mas não quer ver partir os pássaros,
mesmo sabendo que eles não lhe pertencem.
Que se enfeita toda e perfuma o leito,
ainda que o seu amor
nem perceba tais detalhes.
Que como uma feiticeira
transforma em luz e sorriso
as dores que sente na alma,
só pra ninguém notar.
E ainda tem que ser forte,
pra dar os ombros
para quem neles precise chorar.
Feliz do homem que por um dia
souber entender a Alma da Mulher!


Autor desconhecido





quinta-feira, fevereiro 04, 2010

Um adeus de mulher para mulher



E de novo a armadilha dos abraços.
E de novo o enredo das delícias.
O rouco da garganta, os pés descalços
a pele alucinada de carícias.
As preces, os segredos, as risadas
No altar esplendoroso das ofertas.
De novo beijo a beijo as madrugadas
de novo seio a seio as descobertas.
Alcandorada no teu corpo imenso
teço um colar de gritos e silêncios
a ecoar no som dos precipícios.
E tudo o que me dás eu te devolvo.
E fazemos de novo, sempre novo
o amor total dos deuses e dos bichos.


Rosa Lobato de Faria
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quarta-feira, fevereiro 03, 2010

InsalubridadeS

Será que não há alguém com coragem que ponha uma banda gástrica na bocarra do Alberto João?????
Não há saco que aguente!!!!!!!!

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segunda-feira, fevereiro 01, 2010

O Gene da Infidelidade



Como não tenho o hábito diário de comprar um jornal (sempre poupo umas quantas árvores) e gosto de me manter minimamente informada, vejo normalmente os telejornais da tarde e da noite, sendo este, relativamente às notícias de maior impacto, pura clonagem do primeiro. Para dar uma de diferença, aparecem mais ou menos intercaladas as tais notícias que de notícias nada têm, e as pequenas curiosidades.

É precisamente uma dessas curiosidades, que faz tempo foi noticiada num dos nossos canais nacionais (mais precisamente em Setembro de 2008 - e este preciosismo nada tem a ver com boa memória, mas sim com este maravilhoso meio de informação que é a Internet), a causadora deste meu despretencioso "post".

Lembro-me perfeitamente de ter ficado com um sorriso nos lábios, de ter feito um comentário jocoso e solitário e de o assunto ter ficado depositado nesse imenso arquivo que é a nossa memória.

Resolvi ir rebuscá-lo ao baú das minhas recordações (um bocado carunchoso, mas lá vai dando para os gastos) porque penso servir às mil maravilhas para demonstrar uma teoria que brilhantemente (modéstia à parte), tenho vindo a desenvolver.

Porque é que os homens se casam? E quando se casam porque é que maioritariamente fazem questão em ter descendência e invariavelmente que esta seja do sexo masculino?

Parafraseando Mr Sherlock Holmes (o protagonista da última versão cinematográfica, claro! - os anteriores, que me desculpem os ditos, eram todos uns coirões): "Elementary my dear Luisa"! Tem tudo a ver com a descoberta do gene da infidelidade!

E passo a citar: "Cientistas do Instituto Karolinska, de Estocolmo, na Suécia, descobriram que a infidelidade dos homens está ligada a um gene que administra a vasopressina, uma hormona que se reproduz naturalmente, por exemplo, com os orgasmos."

Et voilà! Afinal os pobres não têm culpa nenhuma! Se não casassem lá ficava o empecilho do gene sem poder fazer jus ao nome! Claro como água ( o viver junto não vale - é aquilo que modernamente se chama de relacionamento aberto)! Quanto aos filhos homens... pois está-se mesmo a ver que entra em acção esse poderosíssimo instinto de conservação da espécie!

Mas não se aflijam Mulheres! Se acreditam na fidelidade dos vossos maridos, se eles são a menina dos vossos olhos, se juram a sete pés que eles não vêem outra coisa senão a sua legítima - Who cares? -.

Até porque, quem nos garante que não existe o malfadado gene na cadeia genética feminina e lá terão então os cientistas em mãos mais uma pungente pesquisa:

"A procura do gene da ingenuidade masculina."

quinta-feira, janeiro 28, 2010

Eu, em mim

Escuto nos silêncios a festa das palavras,
como se tudo estivesse onde quero que esteja.
Estou próxima de mim mesma, até quando vacilo,
como onda silenciosa, dissolvendo-me em espuma.
Sou criança. Volto a brincar nas dunas.
O vento acaricia-me. O sol aconchega-me.
O ar é branco. Respiro.
E cada inspiração é surpresa.
Nada se recria, mas tudo se reconstroi.
Até a vida,
a quem peço que me ajude
a calar, quando não devo falar,
a estar presente, sem tirar a liberdade,
a falar, se não for hora de calar,
a sorrir, sempre que der
e a amar sem medida,
na medida mais certa que eu puder.

domingo, janeiro 17, 2010

Como os primeiros

como eu gostava
de poder amar-te esta tarde
de ouvir-te mesmo sem te ouvir

como eu gostava de estar
de nada esperar
de apenas sentir

frémitos
sussurros do vento
odores sabores e rubores

gestos repetidos
interrompidos
sempre novos

como os primeiros
.


sábado, janeiro 16, 2010