terça-feira, dezembro 14, 2010

A tristeza de Natal

É por estes dias que aparece. Não desde sempre, pelo menos que me lembre, mas de há uns anos para cá.
Vem de mansinho. Como aquele mau estar indefinido causado por uma virose. Como que uma impaciência para a qual não se tem diagnóstico. A irritação de um porquê, sem resposta. A falta de vontade de fazer o que se acha que tem que ser feito.
Será nostalgia? De quem se teve por perto, e não se tem mais. De sentimentos perdidos, amores terminados. De paixões que se extinguiram. Saudades do que tivemos sem nunca ter tido, de projectos ou sonhos que nunca vimos realizados.
Será tristeza? Sem se perceber porque se está triste?
Ou será porque não se encontra nenhum sentido na azáfama da corrida às compras, essa agitação natalícia que o consumismo inventou? Porque não faz nenhum sentido o contraste entre a abastança de uns e a miséria de tantos?
Sentido tinha o cheiro do musgo fresco, colhido nas veredas sem sol, a rodear o laguinho feito de prata onde se miravam os patos que, sabe-se lá porquê, faziam companhia ao Menino, juntamente com as ovelhas, os reis magos e os pastores.
Sentido tinha o esforço de juntar à mesma mesa, debaixo do mesmo tecto, aqueles que sempre se amaram. E eram eles que importavam.
Mas sentido faz também e agora, a tolerância, a compaixão, a aceitação da diferença e da mudança.
Sentido faz saber que é bom voltar a abraçar quem se tem vontade de abraçar, poder embalar quem nasceu e ainda não se sentiu. Sentido faz sorrir, e estar, e conversar.
E assim, tudo acaba por fazer sentido.