quarta-feira, abril 30, 2008

Pedi Um Poema Emprestado


Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu não te dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

Florbela Espanca - Os versos que te fiz

Hoy (Machu Picchu-Algum dia deixará de ser imaginário?)

segunda-feira, abril 28, 2008

oS mEUS aMIGOS





O gato chamava-se Pom-Pom, parecia isso mesmo, quando muito pequenino entrou na nossa casa e nas nossas vidas. Adoptou-me como mãe e mamava na manga da minha camisola de angorá. Esperou pela nossa visita no hospital veterinário de S.Bento, onde estava desde a véspera, para se despedir, olhando para cada um de nós, e partiu. Há 5 anos.


O cão pequenote é o Gipsy. Rafeiro de raça e feitio. Como há ano e meio que vivemos os dois, acho que tem a mania que é pessoa. É esperto, mas muito absorvente, quer ser o centro das atenções. E rosna.


O grande é o Pisco. É meigo, obediente, inteligente. Tem uma força incrível. Tinha uma habilidade enorme para atirar comigo ao chão, quando o levava a passear. Não pude trazê-lo comigo. Tenho muitas saudades tuas, meu amigo dos olhos doces.

1974 AbriL 25


Escrever é como tantas outras coisas boas da vida, deve fazer-se quando apetece, quando para isso estamos inspirados, e não porque é oportuno ou há um tempinho livre.
Foi por isso que na sexta 25 nada escrevi. Por isso e também porque andei parte do dia embalada pelas canções do Zeca passadas e repassadas num qualquer leitor de CD's da vizinhança.
Não sou muito de reviver o passado, mas há datas que estão para além disso, porque são marcos na história dum país, na nossa propria história. E foi assim, que em conversa com alguém acabado de conhecer, se disse: "Que pena já ninguém lembrar, a entrada na escola , um portão para os meninos, outro para as meninas, corredores que nunca se cruzavam, pátios onde não se brincava junto. E os livros que não se liam, os filmes que não se viam, as conversas que não se tinham...".
Num dia de Janeiro do ano de 1969, vi partir no cais de Alcântara o navio Niassa, com destino a Moçambique, levando nele o meu irmão juntamente com as lágrimas da minha mãe e de tantas outras mães. Regressou, vivo, inteiro...ao contrário de tantos outros.

A Liberdade só se valoriza verdadeiramente quando se perde.



Era uma vez um pais
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira mar


Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza


Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o pão arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
...
Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade
....
"As portas que Abril abriu" -José Carlos Ary dos Santos"

sábado, abril 26, 2008

MomentoS



Olhar o mar do alto da falésia e inventar um pôr-do-sol, levando consigo molhos de nuvens pintadas com cores por descobrir....


Ouvir palavras soltas, quase sussurradas, do presente e do passado - és especial - não dei pelo tempo passar....


Guardar momentos no cofre encastrado no meu coração, junto com outros presentes, coisas impossíveis de esquecer, horas, minutos, que não cabem em tempo algum.

segunda-feira, abril 21, 2008

O homem não se enxergA

Senhor engenheiro ministro das Finanças da 5ª repartição, 4º bairro, Chelas, Zona K, Excelência

Zé Carlos e Soraia Vanessa vêm por este meio bufar junto de Vossa Excelência os gastos que fizeram anteontem derivado ao matrimónio que contrairam aqui ao lado, naquela igreja prefabricada que tem a cruz fluorescente em roxo, não sei se está a ver, é aquilo que parece a oficina do Chinas, mas em branco e sem pneus pendurados. Prontos.

Então é assim, tivemos que dar uma data de dinheiro ao senhor padre, mas ele não passou recibo, pelo que achamos que é de prendê-lo e mandar vir outro. Ao resisto com cervatória, o civil, sem ser pela igreja, esse também pagámos bué, mas esses Vossa Excelência já deve tar a mancar e sobre olho, derivado a serem da família, salvo seja, de Vossa Excelência.

Passamos então ao chamado vestido de noiva, o qual foi oferecido por uma senhora chamada Dona Clara que criou a minha esposa desde pequena, isto agora sou eu a escrever, o Zé Carlos, porque a Soraia foi à bica à Dona São, derivado a que a mãe dela teve de ir bulir para Barcelona e deve ter-se casado por lá, mas ninguém tem a certeza derivado ao que não podemos portanto, bufar junto de Vossa Excelência quanto é que custou o casório dela, se é que se casou mesmo, senão bufávamos e Vossa Excelência até era homem para nos fazer um desconto no IRS que eu sei que você era.

sexta-feira, abril 18, 2008

eU tENHO uM sONHO


Eu tenho .......



......um sonho

quinta-feira, abril 17, 2008

Claro Que É


Há já algum tempo que uma pessoa do meu círculo familiar, quando se despede, em vez das tretas do costume estilo "tudo a correr bem", "muita saúde e dinheiro prós gastos", "prazer em ver-te", diz simplesmente: "Diverte-te".

Divertir: desabituar, fazer esquecer, afastar-se, distrair, folgar, recrear-se


Claro que é isso mesmo que faz falta nas nossas vidas.


Claro que ao invés do choradinho pelo que já passou e não tem remédio, temos mais é que esquecer e aceitar o que vier.


Claro que é urgente afastar as dúvidas se as nossas opções são erradas, quando o coração nos diz que estão certas.


Claro que é imprescindível folgar das preocupações e chatices do dia a dia e aproveitar os momentos felizes, os pequenos nadas, o amar, o ser amado.


Viver, é nossa obrigação.


Viver aproveitando ao máximo aquilo que a vida tem de bom, é nossa opção.


a solidão das mulheres divorciadas


"Aos fins-de semana quando não saio com a minha prima Bé fico em casa a ver televisão. Ver televisão quer dizer regar as plantas da marquise, ler o horóscopo nas revistas, desfazer o tricô do domingo anterior, mudar de canal de 20 em 20 segundos e pensar em matar-me.

O problema é que assim que me levanto para tomar os lexotans todos de uma vez a minha mãe telefona de Alcobaça a saber como estou, ouço-lhe os gritos no atendedor de chamadas (a minha mãe que tem um medo danado dos telefones sempre falou aos gritos) e como não é possível a gente suicidar-se e conversar com a mãe ao mesmo tempo, desisto das pastilhas e garanto-lhe que estou óptima, não tenho febre, fumo no máximo três cigarros por dia,como bem, não emagreci (-de certeza que não emagreceste?

para a semana visito-a em Alcobaça sem falta e qualquer dia, palavra, encontro um rapaz como deve ser

(-Não acredito que não haja um rapaz como deve ser no teu emprego filha)

torno-me a casar, desligo o telefone com um tal cansaço e uma tal dor de cabeça que a única coisa que tenho vontade é de um aspegic e silêncio, deixei de ter ganas de me suicidar visto que uma pessoa não consegue matar-se se estiver mal disposta.

Nos fins-de-semana em que saio com a minha prima Bé vamos à Loja das Meias e à Escada sonhar com blazers de caxemira (-Pode ser que com o subsídio de Natal lá chegue) e casacos compridos, chateamo-nos como peruas nos filmes que os jornais gostam, encontramo-nos num bar com colegas da escola dela que descobriram na semana passada um restaurante em Alcântara e já me sucedeu acordar aos domingos de manhã num apartamento de Campo de Ourique ou do Beato ao lado de professores de Matemática com iogurtes fora de prazo no congelador, um chinelo esquecido no bidé e um cinzeiro de folha a transbordar beatas no soalho, junto de uma chávena de café quebrada.

Incapaz de tomar banho num chuveiro em que faltam o sabonete e a água para além de se achar ocupado por um montão de jornais velhos, volto a toque de caixa para o Lumiar sem me despedir do barbudo que ressona de queixo na almofada (-Não acredito que a Bé não conheça um rapaz como deve ser) com um ombro fora do pijama descosido e adormeço até que os gritos de Alcobaça me acordam, de coração aos pulos, para inquirirem no atendedor de chamadas se não tenho abusado dos fritos.

Não abuso dos fritos, não abuso do tabaco, não abuso do álcool, não abuso do sexo, não abuso de nada mãe: oiço crescer o pêlo da alcatifa, mudo de 20 em 20 segundos a televisão de canal e leio o meu horóscopo na penúltima página dos magazines femininos a seguir ao caderno da moda e a um artigo que explica como um cinto de ligas e uns sapatos vermelhos poderiam mudar a minha vida afectiva. Com um cinto de ligas os iogurtes fora de prazo desapareceriam do congelador? Com sapatos vermelhos encontraria chuveiros sem jornais? O meu horoscopo......prevê para quarta-feira um encontro inesperado que me alterará para sempre a existência. Quarta feira foi ontem e o encontro inesperado que tive consistiu em esbarrar com o meu ex-marido no metropolitano: deixou crescer o bigode, vinha acompanhado por uma mulata com metade da idade dele e nem sequer me viu. Ter-me-à visto alguma vez?

Em todos os canais de televisão passam novelas brasileiras.Oiço a chuva de Outono contra os vidros e o casal do andar de cima a gemer ao ritmo da cama. Se me levantar para tomar os lexotans todos a minha mãe vai desatar aos gritos no atendedor de chamadas, de maneira que o melhor é ficar quietinha no sofá a olhar as plantas e o retrato do meu sobrinho bébé sem pensar no suicídio. Para quê?

Durante seis meses poupo nos almoços (uma bica, um croissant e um pastel de bacalhau) comidos em pé ali no centro, compro o blazer da Escada e uns sapatos vermelhos, a colega que vende ouro no escritório prometeu baixar-me as prestações do anel e passo o serão sozinha, de blazer, sapatos e cachucho, lindíssima, a mudar de canal e a ouvir o pêlo da alcatifa a crescer."

-António Lobo Antunes, Livro de Crónicas

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segunda-feira, abril 14, 2008

DA JanELa Do mEu qUArto.....




...vi os primeiros raios de sol pintarem de ouro as folhas recém-nascidas do meu choupo, enquanto a brisa suave do amanhecer as convidava a bailar, docemente entrelaçadas.

A primeira andorinha trazia nas asas todas as promessas....


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domingo, abril 13, 2008




TOMA LÁ QUE É PARA NÃO SERES VAIDOSA!




Acordei hoje de manhã com a desagradável sensação de ter qualquer coisa estranha num olho, que não estava lá na véspera. Como se não chegasse, ao tentar abrir o dito cujo, constatei que estava remelosa!!!! Coisa horrorosa... mesmo com os dois a funcionar em pleno, as coisas de manhã estão sempre turvas, imaginem so com um....um desastre.

Lá me amanhei conforme pude e depois de descolar aquela peganhice amarelada, deparei com quê? Imaginem que tinha um hordeólo. Como se não chegasse ser uma chatice do caraças ainda lhe põem um nome tipo insecto pré-histórico.
Mas que raio, que coisa mais parva, como é que isto me foi acontecer? De repente fez-se luz no meu cérebro, que entretanto ja estava a sair do estado de entorpecimento matinal. Claro! como é que não pensei nisto antes?

Foi ela!!!! A mulherzinha que estava na mesa ao lado, acompanhada do maridinho, no restaurante em Entre-Campos, onde fui almoçar porque tinha uma consulta ali perto.

Eu bem que estranhei os olhares que ela me deitava, mas no estado de graça em que me encontrava, nem liguei. Só quando o empregado (coitado, deve ter estado nalguma ilha deserta ou a precisar de mudar de lentes), se quedou embasbacado entre a minha mesa e a do dito cujo casal, com a travessa do bitoque na mão, acordei e achei que havia qualquer coisa de estranho.

Acho que ainda não tinha acabado de balbuciar "mas eu não pedi nenhum bitoque", quando o homem disparou: "a senhora desculpe a minha franqueza...mas tem uns olhos lindos..."

Devo ter ficado com aquele ar aparvalhado, de boca aberta como um peixe fora de água, sem saber se havia de dizer uma parvoeira qualquer, ou simplesmente arvorar um sorriso idiota, quando, subitamente , reparo que a travessa contendo a fritalhada se tinha inclinado perigosamente e que a molhaça gordurenta do repasto destinado à dama, se esparramava na manga do casaco do maridinho da dita cuja.

Foi então que senti o olhar que ela me lançou, com aquele seu olho avermelhado, qual Ciclope enraivecido. Pronto, estou feita, pensando na praga "treçolho, treçolho, passa para aquele olho".

E eu que tinha ficado tão vaidosa. Há séculos que ninguém me dizia que tinha os olhos bonitos!!!!

P.S.: Não acredito em bruxas, mas que as há, há. Por via das dúvidas lá fui buscar o alho (receita da avozinha) e dei uma esfrega no Hordeolo. Assim, talvez evite ter que passar a praga ao gajo do parque de estacionamento que passa a vida a passar-me bilhetinhos quando me atraso no cabeleireiro.

sábado, abril 12, 2008

QUERIA


Queria poder dar-te tudo... o mundo
Mas tudo o que posso dar-te... é nada
Não fora a minha alma desvairada
Ter-me levado a erro tão profundo
.
Não sei se irei ainda encontrar norte
Neste caminho tão cheio de saudade
Tão cheio de mentira... e de verdade
Não há alma que seja assim tão forte

.
Mas logo a tua voz me vem trazer
A esperança de não estar assim errada
Dar... sem esperar nada... pode ser
.
E tal qual tarde cheia de quimera
De verdes, de azuis, de tempo ausente
Assim minh'alma sabe o que soubera
.