quinta-feira, abril 23, 2009

Amstel Dam


Há lugares assim. Chegamos onde nunca estivemos, e embora o manto da noite já tenha caído e haja sombras e formas difusas, sentimo-nos em casa.
Dão-se beijos e abraços a quem amamos e não viamos há tempo demais.
E vem o dia, depois da noite mal dormida, e partimos à descoberta do que já adivinháramos.
Não se contam os passos, são tantos que baralhariamos as contas. Deixamo-nos ir, com os barcos no seu vai-vem circular como guias. E não tarda a vir a pena, mascarada de inveja, de nunca se ter conseguido fazer as curvas em cima de duas rodas. Deve ser bom, fazer parte daquele cortejo interminável e silencioso. Valeu a boleia, sentada à menina, pelas veredas do parque.
E vieram mais quatro noites mal dormidas, compensadas por quatro dias cheios das cores garridas de uma variedade imensa de flores, de árvores engalanadas de cor-de-rosa, da calma das manhãs escorrendo ao ritmo lento das fitas de água que refrescam o ar.
E valeu o descanso na relva dos parques, revendo no céu ensolarado a noite estrelada do Vincent. Ficou a desilusão de não estar lá, na terra de água, a rapariga enfeitada com o brinco de pérola. Gostava de a ter sentido.
E valeu a cerveja bebida ao cair da tarde, nas esplanadas penduradas em cada ponte. São tantas, as pontes... não deu para contar. E o rosé, com salpicos de conversa amena, mesmo ali à beira do museu do cinema, aquecidos por um sol a lembrar o nosso canto.
E valeu a noite, pontilhada de luzes vermelhas, à volta da igreja que lhes deu guarida, enfeitada de cisnes brancos, donos nocturnos do canal. Lugar de contrastes, e também de várias leituras, conforme os olhos com que se lê.
E vimos reis e rainhas e cavalos e torres e peões a serem movidos ao sabor do pensamento, ali mesmo, no chão axadrezado, e pequenos dragões acampados no relvado, e gatos, muitos gatos, donos de muitas janelas de casas de paredes desalinhadas, tão antigas como a sua história.
E rimos de memórias antigas, que alguém chamou de nostalgias. E sentimos no ar aquele aroma de beijos, a lembrar a vontade de ter alguém por perto.
Ficou a vontade de voltar um dia...






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