segunda-feira, agosto 25, 2008

crOniCas de ViAgem


Partir, levada pelas asas metálicas rumando a lugares desconhecidos, é uma emoção, uma agitação da mente, do espírito, que continua a inundar o meu ser sempre que parto.
Este destino, no Norte de Africa, proporcionou-me logo à chegada, já noite escura, sensações físicas absolutamente extraordinárias. Imaginei-me, completamente vestida, a ser passada a ferro, a roupa escaldante a colar-se às pernas, às costas, ao peito... a boca aberta engolindo uma golfada de ar quente, pesado e húmido. Não, não foi aterrador foi simplesmente... inesperado e diferente.
Como tão diferente, dos poucos lugares da Terra onde já fui, pode ser a Tunísia.
Os dois jovens guias (Marouen e o "olhos azuis"), simpáticos e afáveis, que seguiram connosco no autocarro - completamente cheio de portugueses - de Tunis até (supostamente) ao nosso destino final por essa noite - KAIROUAN - lá nos tentaram convencer que as 3 horas passariam depressa se dormissemos uma soneca. A primeira surpresa e também a primeira e única sensação se insegurança ocorreram duas horas depois. Inesperadamente (por esta altura apenas seguiam no autocarro eu, a filhota e um casal com um filho) parámos na berma da estrada, no meio do nada e fizeram-nos sair às duas mais as maletas explicando que a partir dali iriamos numa pequena carrinha de 4 lugares, apenas com o motorista, até ao hotel onde dormiriamos essa noite, enquanto se riam, falavam árabe entre eles e nos davam palmadinhas nas costas dizendo "no passa nada", "tout va bien"!!!!
Não sou medrosa. Consigo normalmente gerir bem algum receio legítimo que me assalte, mas confesso que senti um arrepiozito na "espinha", quando nos vi às duas, em plena escuridão, dentro daquela carripana, com um motorista árabe , a caminho dum lugar desconhecido.
Cada vez mais percepciono que falar é quase sempre a atitude certa e assim lá entabulei conversa com o homem, num francês arrancado a ferros, que foi melhorando à medida que percebia que o pobre ainda tinha mais dificuldades que eu em falar a língua de Flaubert.
E foi assim que, sãs e salvas, chegámos à 1,30 h ao hotel de 3 estrelas, mais que cadentes, de seu nome EL AMINA, onde nos esperavam dois tunisinos de ar ensonado. Graças a Maomé um deles lá agarrou nas duas maletas e subiu as escadas até à nossa "habitacion" desta primeira noite (nestes abençoados "hoteis" do sul da Tunísia rampas e elevadores são coisas desconhecidas).
Estávamos por esta altura completamente rotas, anestesiadas pelas emoções, pelo cansaço, pelo calor abrasador e também pelo riso que nos acompanhou do primeiro ao último dia.
Só assim conseguimos desvalorizar completamente o facto de estarem para aí uns 30 graus dentro do quarto (o aposento era do tipo pensão de "meninas" dos anos 60), do aparelho de ar condicionado - que foi ligado à nossa chegada - tentar ingloriamente refrescar um pouco o ambiente e de termos ficado com os pés dentro de um lago de água que escorria por baixo do lavatório (o desgraçado já conhecera melhores dias) enquanto lavávamos os dentes com um resto de água engarrafada - não fosse o diabo tecê-las -.
E foi assim, num sono intermitente e agitado, que terminaram estas primeiras e atribuladas horas em terras de África, até que o som do telefone a despertar nos libertou daquele torpor peganhento às 6,45 h .

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