quarta-feira, outubro 08, 2008

Transmissão de Vozes à Distância




Era uma telefonia a válvulas.
Um quase luxo para a época. Quando ainda não nos entrava o mundo em imagens pela casa dentro.
Telefunken, era a marca.
As telefonias eram, nos anos 60, fonte de distracção e prazer para as mulheres , donas de casa e mães a tempo inteiro, devido à moda emergente dos folhetins radiofónicos.
O velhinho TIDE - "Tide-lava mais branco" - patrocinava "A filha da coxinha" um dramalhão de fazer chorar as pedras da calçada, nas vozes que ainda relembro e cujos nomes já esqueci.
Quantas vezes estas mulheres sacrificadas, absolutamente fascinadas pelos dramas de outras mulheres - abandonadas com filhos de tenra idade, ou de raparigas orfãs que acabavam por casar com mancebos loiros de pele leitosa, vivendo à custa dos progenitores e sonhando com as fortunas que iriam herdar depois destes se passarem para o Além -, levavam tareias monumentais dos maridos quando chegados a casa, ciosos de horas certas para a comezaina, deparavam com o lume apagado e olhos lacrimejantes.
Esta telefonia já é apenas memória. Não consegui encontrar o rasto do seu destino.
O mesmo não aconteceu com a BrAun, que fui encontrar em casa dum amigo recente. Linda, orgulhosa do seu som ainda límpido e da sua história, continua a transmitir vozes à distância.

Coisas do Tempo.

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