segunda-feira, abril 28, 2008

1974 AbriL 25


Escrever é como tantas outras coisas boas da vida, deve fazer-se quando apetece, quando para isso estamos inspirados, e não porque é oportuno ou há um tempinho livre.
Foi por isso que na sexta 25 nada escrevi. Por isso e também porque andei parte do dia embalada pelas canções do Zeca passadas e repassadas num qualquer leitor de CD's da vizinhança.
Não sou muito de reviver o passado, mas há datas que estão para além disso, porque são marcos na história dum país, na nossa propria história. E foi assim, que em conversa com alguém acabado de conhecer, se disse: "Que pena já ninguém lembrar, a entrada na escola , um portão para os meninos, outro para as meninas, corredores que nunca se cruzavam, pátios onde não se brincava junto. E os livros que não se liam, os filmes que não se viam, as conversas que não se tinham...".
Num dia de Janeiro do ano de 1969, vi partir no cais de Alcântara o navio Niassa, com destino a Moçambique, levando nele o meu irmão juntamente com as lágrimas da minha mãe e de tantas outras mães. Regressou, vivo, inteiro...ao contrário de tantos outros.

A Liberdade só se valoriza verdadeiramente quando se perde.



Era uma vez um pais
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira mar


Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza


Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o pão arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
...
Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade
....
"As portas que Abril abriu" -José Carlos Ary dos Santos"

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