segunda-feira, maio 19, 2008

LISBOA-Assim se Chama a Minha Cidade


Olisipo, assim a apelidaram quando nasceu de uma "citânia", localizada a norte do actual Castelo de S. Jorge, sítio encantado, deixado ali no alto da colina para que, como que suspensos nas suas muralhas, nos seja permitido enamorar por Lisboa.
Como é linda esta minha cidade, que vejo e revejo, sem nunca me cansar, há mais de meio século.
Quando a olho com olhos de menina, lembro-a a acordar com os seus pregões matinais: "Quem quer figos, quem quer almoçar", "Ó viva da costa", "Olhá fava rica".
Lembro as colchas nas janelas e as pétalas soltas pelo chão, em dias de procissão da Senhora da Saúde.
Lembro a Mãe dizer: Vai chover!, sempre que a flauta de cinco tubos, soprada pelo "amolador à porta", se fazia ouvir lá no alto do sexto andar do prédio pombalino, onde morávamos.
E lembro os cheiros, lembro o aroma das castanhas assadas "quentes e boas" apregoadas "é croa a dúzia", lembro o odor a maresia trazido pela brisa, como se o rio abraçasse o mar e os dois enlaçados nos entrassem pelas águas furtadas(furtadas a quem? perguntava quando explicavam que furtar era o mesmo que roubar), lembro a miscelânea de cheiros do Mercado da Ribeira, ora delicados e doces no jardim encantado das flores, ora fortes e a lembrar o mar, nas bancadas do peixe acabado de pescar. Lembro o cheiro a fruta madura, lembro as cerejinhas que a Dª Rosa sempre metia na minha mão pequenina para "entreter até chegar a casa".
Lembro ainda o "eléctrico operário", com bilhete de ida e volta a oito tostões, que me levava, já mocinha, ao Liceu Rainha Dª Leonor na Junqueira, sempre de alfinete na lapela (posto pela minha Avó), que servia para desencorajar os encostos dos mais atrevidos.
Lembro-te minha cidade.
Troquei-te há uns anos por um qualquer suburbio igual a tantos outros, mas voltei e espero ficar. Espero continuar a ver-te, todos os dias, até os meus olhos verem.
E continuar a amar-te.

Sem comentários: